‘Minha vida mudou após masturbação virar rotina’; benefícios são muitos

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O tabu ao redor do autoprazer feminino fez com a pedagoga Camila Guidoni, de 42 anos, passasse a se masturbar sem culpa somente duas décadas depois do início de sua vida sexual. “Antes tinha certa vergonha de explorar meu corpo, de me tocar; sentia que não era correto”, diz em entrevista a Universa.

Ela conta que só mudou de opinião recentemente, em 2019, após ser impactada nas redes sociais por conteúdos sobre sexualidade feminina –tema que tem ganhado destaque na internet e fora dela.

Mesmo assim, ainda tem quem desconsidere a importância da masturbação feminina ou trate o momento como algo inapropriado. Para quem pensa dessa maneira —seja por questões morais ou por falta de conhecimento sobre o assunto—, pesquisas, estudos e relatos mostram o contrário e provam os benefícios —físicos e emocionais— da masturbação.

Aliada do bem-estar feminino

Durante a pandemia, o mercado do autocuidado mirou no sexo como um caminho para o bem-estar feminino, campo até então pouco explorado pelo ramo. Com o tempo, essa categoria ganhou nome, investimentos e passou a ser chamada de “sexual wellness” (bem-estar sexual, em português).

Pudera: o que não faltam são benefícios proporcionados pelo autoprazer feminino; entre eles a queda nos níveis de estresse e ansiedade por causa de hormônios liberados durante o orgasmo, como a endorfina e a ocitocina, a melhora na qualidade do sono, a redução de dores de cabeça e de cólicas menstruais.

Camilla Mesquita - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal

“A masturbação, junto com a terapia, virou uma maneira de eu me reconectar comigo mesma”, diz Camilla Mesquita

Imagem: Arquivo Pessoal

Uma pesquisa realizada pela Womanizer em maio de 2020 com 486 pessoas que menstruam comprova essa teoria. Depois de três meses de experimentos, 90% dos participantes recomendaram a masturbação para alívio das cólicas. “Toda excitação sexual estimula e acelera a circulação sanguínea, o que proporciona melhora de dores, inclusive as menstruais”, explica a ginecologista Juliana Honorato, que é também host do podcast “Prazer em conhecer-se”.

A médica ressalta outros benefícios, inclusive à autoestima, que a adoção do autoprazer na rotina pode proporcionar à mulher. “Quando ela descobre que o corpo dela é uma fonte independente de prazer, que não precisa de outra pessoa para isso, tudo muda. Isso faz com que a mulher veja a si mesma de uma maneira diferente”, pontua Juliana.

“Às vezes, prefiro me masturbar do que transar”

É o caso da turismóloga Camilla Mesquita, de 27 anos, que passou a rever a maneira como lidava com o próprio corpo depois que adotou a masturbação como uma prática contínua em sua vida. “Antes eu achava que era muito feia até para tocar no meu corpo. A masturbação, junto com a terapia, virou uma maneira de praticar o autoamor, uma maneira de eu me reconectar comigo mesma”, revela.

“Apenas aos 20 anos entendi que me masturbar era algo que eu podia fazer e que não era errado”, acrescenta Camilla que, assim como Camila Guidoni (personagem do início do texto), também sentia culpa por praticar o ato. “Apesar de me masturbar durante a adolescência, depois de um tempo encarei aquilo como uma coisa errasda, achei que estava viciada e passei um longo período sem me tocar.”

Após ler e pesquisar sobre o tema, já na vida adulta Camilla mudou de opinião. “Hoje em dia encaro como uma prática que reduz minha ansiedade, me faz bem, me conecta a minha essência… Às vezes, prefiro me masturbar do que transar, e olha que eu e meu namorado temos uma relação ótima, mas esse momento de autoprazer é superimportante pra mim.”

A turismóloga Camilla Mesquita - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal

A pedagoga Camilla Mesquita

Imagem: Arquivo Pessoal

A turismóloga diz que, ao menos uma vez por semana, tenta reproduzir um “ritual de autoamor”. “Separo um momento para ficar tranquila, tomar um banho demorado, ouvir uma música, fazer hidratação no cabelo, cuidar das unhas, me masturbar… É um ritual de conexão”, compartilha Camilla.

“Não sabia gozar sem penetração”

Assim como a xará, Camila Guidoni encontra um espaço na agenda para reproduzir semanalmente esse momento de autocuidado. “Me desligo da maternidade, assisto a um filme que me relaxa, coloco um aromatizante e tento sentir as partes do meu corpo. Fato que, depois que comecei a fazer esse ritual pelo menos uma vez por semana, me senti mais segura, inclusive com meu corpo”, compartilha a pedagoga, que é também mãe de três crianças e está casada há quase 23 anos.

Segundo Camilla, a prática recorrente da masturbação trouxe benefícios até para o seu relacionamento. “Só conheci de verdade o meu corpo quando passei a me tocar com frequência. Isso fez com que entendesse o meu prazer e tivesse coragem de verbalizar para o meu marido o que eu gostava (ou não) na cama.”

Camila Guidoni - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal

Camila Guidoni

Imagem: Arquivo Pessoal

“Não que meu parceiro não me masturbasse ou não se importasse com o meu prazer”, diz Camila, “mas era um sexo muito focado na penetração, no estímulo vaginal. Antes eu não sabia gozar sem penetração. Com o mercado da sex techs evoluindo, me atentei ao fato de que eu tinha um certo pudor de me tocar. Demorei para descobrir que o clitóris é uma parte do corpo que dá prazer.”

Para a ginecologista Juliana Honorato, mais do que melhorar a vida do casal, a masturbação pode impedir que mulheres entrem ou aceitem estar em relações abusivas só por causa do prazer. “A mulher que sabe do que o corpo é capaz enxerga que não precisa estar com outra pessoa para curtir um bom sexo; ela mesma consegue se fazer gozar. Então ela só vai estar com uma pessoa quando fizer sentido, e não apenas motivada pela questão sexual”, analisa.

Cada corpo é um corpo

A médica destaca também que não existe uma “frequência recomendada” de masturbação e que, em vários períodos da vida, é normal que a mulher não sinta vontade de se tocar.

Mariah Prado, sexóloga e criadora da plataforma Share your Sex, defende a ideia de que “cada corpo é um corpo” e por isso tentar encaixar a masturbação em uma fórmula generalizada não faz sentido. “A gente tem que entender a nossa própria necessidade –e vontade”, verbaliza.

A especialista dá dicas técnicas para aumentar (e estimular) o autoprazer. “Todo orgasmo é uma descarga de energia, portanto, para alcançar um mais intenso é preciso acumular essa energia”, avalia. “Comece pelo toque sútil, acaricie sua pele com toques leves por todo o corpo. Quando chegar na região genital, estimule ao redor da vagina antes de ir direto ‘ao ponto’. Depois, massageie o clitóris e faça estímulos na região, com a ajuda ou não de um vibrador.”

“Um aliado importante do autoprazer feminino é o lubrificante; afinal, é muito gostoso estar lubrificada em qualquer relação sexual, não importa se é individual, em dupla ou em grupo”, finaliza a sexóloga.

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